Mudra emana faíscas…

Vera Marmelo
Vera Marmelo

Mudra emana faíscas, poemas líricos, as suas melodias dão incessantemente origem à poesia. Marco, um dia, procurou companheiros que fossem filhos da sua esperança; tornou-se claro que não os podia encontrar, a menos que ele próprio os criasse. Com o coração repleto de tais enigmas, encontrou-se só a caminho da sua obra. Só como o céu sereno e o mar livre.

Ninguém ama com todo o coração senão o seu filho e a sua obra. Um grande amor é presságio de maternidade. De beatitude involuntária. De viagens solitárias em que nunca se repete senão a experiência própria, na profundidade do seu próprio abismo. É aí que nasce a sua eloquência. É do cume dos montes que brota a fonte de vida, lá onde o ar é rarefeito. Por isso, poucas são as bocas que lhe sentem a frescura. Apenas os aventureiros se arriscam nos trilhos e nos transtornos que causam a sua sede. Esta é música de quem tem sede e sabe esperar. A expressão de um espírito sereno, quase infantil, que sabe dar voz aos presságios, agarrar o piano com punhos de ferro e arrancar-lhe sons, que, de outro modo, seriam estranhos.

Em nenhuma arte a teoria é mais fraca e insuficiente como na Música. A música é a mais romântica das artes, em particular a música instrumental, a qual despreza todo o auxílio e exprime pura e genuinamente a essência do mundo. Um mundo que nada tem de comum com o mundo exterior. Deixamos para trás todos os conceitos para nos entregarmos ao inefável. Um temor envolve-nos, mas é sobretudo um temor isento de mortificação, que é a expressão do infinito. Amor e melancolia soam, revelam o reino do extraordinário e do incomensurável, por entre as nuvens na eterna dança das esferas

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