Marco Franco, Tiago Sousa e Joana Gama no Teatro Maria Matos

Com uma longa carreira que reluz dentro e fora do jazz, Marco Franco deixou de ser apenas um valioso baterista da nossa cena para abraçar, há um par de anos, o piano e, mais importante que isso, a composição. Mudra, álbum magnífico e merecidamente aplaudido ao longo de 2017, tendo sido tocado na íntegra na nossa sala em maio do ano passado, colocou-o sob os holofotes de um género que habita com bravura os interstícios de um classicismo moderno inventivo e arrojado. O sucesso de Mudra foi por isso a ignição suficiente para Marco Franco delinear uma nova fase da sua vida, dando prioridade à escrita musical e à exploração de novos caminhos sonoros. Assistimos agora a uma segunda etapa que nos atira novamente para a surpresa: em trio, Marco Franco chamou Joana Gama e Tiago Sousa para se encontrarem numa partitura atmosférica, cruzando o ar com a soma das frequências de um piano, de um dulcitone e de um harmónio, num triângulo aritmético de teclados acústicos abençoados pela infinita curiosidade por um mundo de infinitas possibilidades tímbricas. Sem hierarquias ou protagonismos, os três músicos conluiem para nos proporem uma plataforma contemplativa e emocional, floreando uma planície musical onde seremos os seus primeiros visitantes. Aproveitem a honraria.