escrito para o blog: http://doismaisdoisigualacinco.blogspot.com/
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Não me parece nada inocente que, após estas declarações de Passos Coelho, surja esta alegada fuga de informação, relativa a relatórios da polícia e do SIS alertando quanto à possibilidade de tumultos e violência tomarem as ruas. Não acredito que o receio se prendesse com a manifestação de dia 1 de Outubro, mas estou bastante convicto que o alvo das “preocupações” seja a manifestação de 15 de Outubro. Parece-me que estas notícias visam dois objectivos. Por um lado, existe um processo de criminalização deste tipo de manifestações não institucionais e inorgânicas, cujo fenómeno parecia arredado da nossa vida social – vimos um fenómeno semelhante quando, o ano passado, a reunião em Lisboa da NATO trouxe os fantasmas de Génova 2001 e a polícia militarizada encontrou toda a legitimidade para tratar todos os protestantes como criminosos organizados. Por outro lado, todos nós já conhecemos algumas táticas policiais que têm tomado lugar neste tipo de acontecimentos Europa fora, como foi bastante visível nas manifestações em Espanha, com agentes infiltrados servindo de instigadores de conflitos, legitimando a carga policial e ordem de dispersão. Não estamos em posição para ter ceticismo em relação à possibilidade deste tipo de acontecimentos no próximo sábado. Sabemos que o poder institucionalizado em todo o mundo está a começar a temer pela sua legitimidade e funcionamento. Com a própria narrativa da “luta de rua” a fugir das mãos de organismos, como sindicatos ou partidários da organização do movimento revolucionário de massas.
Alguns dos protagonistas que tomaram de assalto a palavra desta manifestação, que deveria ser uma voz espontânea da indignação e um processo de procura por novas soluções para o “processo político”, cedo se apressaram a dizer alto e bom som que esta manifestação tinha um carácter pacífico e sabemos bem por que o fazem. A última coisa que querem é sair com a sua imagem manchada e correr o risco de perder o papel de alunos bem comportados, quando tiverem de apertar a mão aos órgãos institucionais que lhes servem de modelo. O seu objectivo é tudo menos revolucionário. Talvez, por isso, pareçam um pouco despropositadas estas preocupações e se o SIS estivesse assim tão bem informado, teria pouco a temer.
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Tiago Sousa